Audiência pública em Pernambuco debateu a pulverização aérea de agrotóxicos

Air Tractor AT-402B

A pulverização aérea de agrotóxicos, realizada por aviões e drones, foi tema de uma audiência pública da Comissão de Agricultura da Assembleia Legislativa do Estado de Pernambuco (Alepe), nesta terça (27).

As falas se dividiram entre aqueles que acreditam que a prática aumenta os riscos dos defensivos para a população e os que enxergam no uso da tecnologia uma forma de reduzir potenciais danos à saúde. 

Contra a pulverização 

Os agrotóxicos foram classificados como “biocidas” pela médica e pesquisadora da Fiocruz, Idê Gurgel, porque eles prejudicam não apenas as pragas a que se destinam, mas também os seres humanos.

A literatura é farta. Há décadas de trabalhos científicos que demonstram e evidenciam os danos à saúde”, afirmou. “Trabalhei muito tempo em hospitais aqui, inclusive da Zona da Mata Norte e Sul, em Goiana e em Palmares.  Nunca dei um plantão em que não houvesse pelo menos um caso grave de intoxicação de trabalhador ou de familiar”, relatou a médica. 

Puberdade precoce, autismo, cânceres e malformações congênitas foram relacionadas aos defensivos, segundo estudos citados pela pesquisadora.  

Ela ainda alertou para a liberação do uso, no Brasil, de substâncias que não podem sequer ser registradas em seus países de origem, e apresentou estudos que revelaram a presença de dezenas de compostos diferentes em uma única amostra de alimentos e da água. Para a pesquisadora, a pulverização de agrotóxicos aumenta a contaminação.

A favor do método

Já o representante do Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola, Cláudio Júnior, o uso de aeronaves e de drones pode, ao contrário, reduzir os riscos porque, segundo ele, há uma aplicação mais controlada das substâncias. Ele recomendou a utilização de drones para aplicação de agrotóxicos por pequenos produtores.

Quando você aplica com o costal, aquele equipamento nas costas do pequeno agricultor, ele aplica uma quantidade muito grande: em torno de 200 a 400 litros por hectare.  Já no avião são dez litros por hectare. Um baldinho pequeno para jogar em uma quadra inteira de 10 mil metros quadrados. Que efeito que dá isso?”, questionou. 

Cláudio Júnior também citou como vantagens o aumento na produtividade, a rastreabilidade das aeronaves e responsabilidade técnica de toda a cadeia envolvida. Segundo ele, o setor tem uma regulamentação forte. Ele instruiu que as denúncias de irregularidades, como pulverização sobre escolas e nascentes de rio, sejam dirigidas aos órgãos competentes para que sejam apuradas. 

O presidente da Federação de Agricultura e Pecuária de Pernambuco, Pio Guerra,  também defendeu o uso da tecnologia para aumentar a produção e garantir os empregos gerados pelo agronegócio no Estado. 

Adagro e agricultores

O diretor de Defesa e Inspeção Vegetal da Adagro (Agência de Defesa e Fiscalização Agropecuária do Estado de Pernambuco), Jurandir Júnior, concordou que o setor de aviação agrícola é o mais regulado na questão do uso de agrotóxicos, mas analisou que é o menos fiscalizado porque falta fortalecer o poder de polícia das agências.

Para ele, é importante fortalecer a fiscalização para manter a credibilidade do setor agropecuário, inclusive quanto às certificações exigidas para a exportação. A audiência pública também contou com depoimentos de agricultores familiares sobre os impactos provocados pela pulverização de agrotóxicos promovida em lavouras vizinhas. 

Lucilene Florentino, do Assentamento Chico Mendes, que abrange os municípios de São Lourenço e Paudalho, contou que a aplicação de defensivos na plantação de cana-de-açúcar do terreno vizinho acabou com a sua produção agroecológica. 

“Eu tinha uma plantação que tinha cinco mil pés de couve. Hoje eu não tenho 100. Acabaram minhas hortaliças, as frutas eu não consumo mais, por quê? Porque eu não sei a quantidade de veneno que tem ali”, lamentou a agricultora familiar. 

O presidente da Comissão de Agricultura, deputado Doriel Barros (PT), disse que o tema será aprofundado em reuniões com governos estaduais, setor produtivo, pesquisadores e agricultores. 

Participaram do debate, ainda, deputados estaduais e representantes da Articulação do Semi Árido, Comissão Pastoral da Terra, Ministério do Desenvolvimento Agrário e Fetape.

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Juliano Gianotto
Juliano Gianotto
Ativo no Plane Spotting e aficionado pelo mundo aeronáutico, com ênfase em aviação militar, atualmente trabalha no ramo de fotografia profissional.

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