Candidatas a comissárias tiveram que ficar seminuas durante recrutamento; caso é investigado

Boeing 777-300 da Kuwait Airways

O Ministério do Trabalho da Espanha iniciou uma investigação, após um grupo de aspirantes a comissárias de bordo receber ordem de ficar seminuas para que os recrutadores pudessem examiná-las fisicamente em busca de cicatrizes, marcas de nascença, tatuagens e outras marcas ou defeitos.

O suposto assédio ocorreu em um hotel em Madri que hospedava um evento de recrutamento aberto para a Kuwait Airways, no entanto, organizado por uma agência terceirizada.

De acordo com os relatos das vítimas ao jornal El Diario, as candidatas foram ao hotel Meliá Barajas, de Madri, perto do principal aeroporto da cidade, no último dia 5 de novembro, onde a agência de recrutamento Meccti, com sede no Golfo Pérsico, alugou salas de conferência para o que era, essencialmente, um casting aberto para comissários de bordo iniciantes.

Através de seu perfil no Instagram, a empresa anunciou o processo de recrutamento para a Kuwait Airways e deixou um link para que os interessados ​​na vaga se cadastrem. E empresa também especificou alguns requisitos, como “altura e peso proporcionais a uma altura mínima de 160 cm”.

Durante o processo seletivo em uma das salas do hotel, as candidatas relatam comentários ofensivos às mulheres e que parte delas que foi excluída do certame sob comentários ofensivos como “não gostamos do seu sorriso” e “você tem o corpo de montanha-russa“.

Uma vítima de 23 anos, identificada apenas como Bianca, deu seu testemunho ao El Diario e lembrou como um dos recrutadores, na etapa inicial, mandou que ela abrisse a boca e “olhou para dentro como se eu fosse um cachorro, quase enfiou o olho na minha boca para ver meus dentes”.

Em dado momento, as candidatas restantes foram obrigadas a entrar, por ordem alfabética e uma a uma, numa sala. “A primeira menina que entrou saiu chorando e nos contou que a haviam obrigado a tirar quase toda a roupa, menos a calcinha. Foi sua primeira entrevista. As outras saíram contando a mesma coisa, foi difícil para eu acreditar, eu estava pirando. Mas não estavam exagerando”, enfatiza.

Quando chegou sua vez, Bianca entrou na sala e lá a recrutadora perguntou a data de nascimento, peso, altura, se ela tinha tatuagens visíveis.

Foi a segunda vez que me perguntaram isso. Então ela me pediu para levantar meu vestido. Puxei um pouquinho para cima, ficou logo abaixo do joelho, e ela puxou até a minha calcinha. O vestido tinha um zíper nas costas e ela me pediu para puxar até a cintura e ficar de sutiã. Ela disse que era para ver se não tínhamos cicatrizes, marcas de nascença, tatuagens. Ela estava se virando para olhar exageradamente para o meu corpo”, descreve.

Outra vítima de 23 anos, chamada Mariana, disse que mulheres jovens e talentosas foram rejeitadas porque tinham verrugas ou pequenas cicatrizes faciais. Outra foi rejeitada porque usava óculos e outra porque usava aparelho. Apesar de ser comum a prática de exclusão por pequenos “defeitos”, tal atitude de verbalização à candidata não é comum de acontecer.

A maioria das companhias aéreas não exige mais verificações de cicatrizes ou tatuagens em áreas que não seriam visíveis ao usar o uniforme da companhia aérea. Mesmo as empresas aéreas que recrutam no exterior não realizam esses tipos de verificações físicas em um terceiro país devido às leis trabalhistas variáveis.

Investigação

Diante da repercussão do caso apresentado pelo jornal, o Ministério do Trabalho espanhol abriu uma investigação para apurar os fatos. A Inspetoria recebeu a notícia do ocorrido e iniciou uma ação de ofício, já que, no momento, não há reclamação de nenhum afetado. O órgão também estuda se os fatos podem configurar crime para, em caso afirmativo, encaminhá-los ao Ministério Público.

É uma conduta intolerável que viola a dignidade e os direitos fundamentais dessas mulheres. Incorre em discriminação no acesso ao emprego, recolhe dados absolutamente irrelevantes para o processo de seleção. Um processo não pode ser baseado em elementos discriminatórios ou em dados pessoais sensíveis. Neste caso, além disso, eles foram além com um comportamento vexatório“, assegurou o secretário de Estado do Emprego, Joaquín Pérez Rey.

A Inspeção deverá analisar “tanto as características da própria oferta de emprego como o próprio processo de seleção“. A oferta de trabalho, que a Meccti anunciou em seu perfil no Instagram, já especificava alguns pré-requisitos, como “altura e peso proporcionais a uma altura mínima de 160 cm”, “boa condição médica, disponibilidade para passar em exame médico no Kuwait” ou “uma excelente apresentação em geral”. 

Os trabalhistas da Espanha lembram que os fatos ocorridos durante o processo “poderão estar sujeitos a sanções por contraordenações muito graves”, previstas na Lei das Infrações e Sanções na Ordem Social, que prevê multa até 225 mil euros nestes casos.

Recorde-se que a solicitação de dados privados que possam ser discriminatórios para o acesso ao emprego é punível, além de atentar contra a privacidade e a dignidade dos trabalhadores, como parece ter ocorrido na oferta de emprego e no processo seletivo em questão”.

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Juliano Gianotto
Juliano Gianotto
Ativo no Plane Spotting e aficionado pelo mundo aeronáutico, com ênfase em aviação militar, atualmente trabalha no ramo de fotografia profissional.

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