Deixando a Rússia de lado, China quer se aproximar do Ocidente em projeto de novo grande avião

Depois que a Rússia invadiu a Ucrânia e o Ocidente reagiu com fortes sanções, uma nova variável foi adicionada ao desenvolvimento do jato widebody russo-chinês CR929, que vem sendo trabalhado pelas indústrias estatais dos dois países desde 2012. O aumento da incerteza em torno da aeronave já estaria levando os chineses verem o conflito como um entrave aos seus planos.

Como relata o jornal South China Morning Post (SCMP), a atitude hostil entre a Rússia e o Ocidente poderia levar ao fracasso do projeto do CR929, já que a aeronave poderia enfrentar bloqueios à sua certificação. Nessa cenário, a criação de uma variante do modelo feita apenas com componentes chineses e russos, como a anunciada no mês passado, não resolveria o problema, já que, ainda assim, o CR929 poderia simplesmente não ser homologado na Europa e Estados Unidos.

Se isso ocorrer, os planos chineses para o novo equipamento ficam frontalmente afetados, já que a China espera que suas empresas usem a aeronave em voos para Europa e EUA, como uma alternativa aos jatos ocidentais – especialmente o Boeing 777 e o Airbus A350. Para tentar amenizar a situação os chineses estariam se aproximando dos países ocidentais para participar do projeto de US$ 50 bilhões, o que, segundo a matéria do SCMP, está deixando os russos furiosos.

“A aeronave de fuselagem larga está programada para voar para os Estados Unidos e Europa, então seria melhor trabalhar com fabricantes americanos e europeus em alguns componentes-chave”, disse uma fonte familiarizada com o assunto.

Com as mudanças geopolíticas, o lado chinês estaria considerando usar peças americanas ou alemãs, enquanto o lado russo insiste que os componentes devem ser originários da Rússia. O fato de a China estar buscando proximidade com empresas ocidentais é visto em Moscou como uma indicação de que a China está do lado dos inimigos.

Algumas semanas atrás, o vice-primeiro-ministro russo Yuri Borisov disse à agência russa de notícias TASS que não estava satisfeito com a direção que o projeto estava tomando. “Nossa participação está cada vez menor”, disse o político. Ele, portanto, não quis prever como as coisas vão terminar.

Projeto atrasado

Inicialmente, a previsão era para que o primeiro protótipo do CR929 decolasse em 2023, mas essa previsão já considera 2027 ou 2028 como um prazo mais factível. As peças a serem fabricadas na Rússia estão atrasadas e isso já vinha gerando atrito entre as partes.

Outro ponto de discórdia são os lucros das vendas potenciais. De acordo com o South China Morning Post, citando fontes internas, a China quer todo o lucro das vendas domésticas para si, enquanto a Rússia deveria ter direito a 70% das receitas no resto do mundo. A Rússia não teria concordado com isso.

De fato, a China provavelmente será o mercado mais importante para o CR929, seguido da própria Rússia, pelo menos inicialmente, já que será difícil penetrar em mercados ocidentais dominados pelas Airbus e Boeing.

Carlos Ferreira
Carlos Ferreira
Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.

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