Força Aérea Brasileira doa caça AMX A-1 para Universidade Federal de Santa Maria

Caça AMX A-1 da Força Aérea Brasileira semelhante ao doado

A comunidade acadêmica acostumou-se há décadas com o barulho do sobrevoo dos aviões e helicópteros da Base Aérea de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, instituição vizinha do campus sede da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).

A criação, em 2014, do curso de Engenharia Aeroespacial da universidade vem aproximando ainda mais as duas instituições. Um marco nessa parceria foi o ato de doação pela Força Aérea Brasileira (FAB), em dezembro de 2021, de um avião caça AMX A-1 para a UFSM.

Como a aeronave em questão já não proporciona mais condições seguras de voo, ela foi “aposentada” pela FAB e servirá como material de estudo para os alunos da universidade. Esse avião hoje se encontra nas dependências da Base Aérea, mas em um futuro próximo será transferido para o hangar atualmente em construção no campus.

Com um custo estimado de R$ 2,67 milhões, o hangar começou a ser construído em meados de janeiro de 2022 pela empresa Everest Engenharia e Arquitetura. O prédio terá uma área construída de 1.018 metros quadrados, visando a abrigar não só o caça mencionado acima, como também um avião modelo Bandeirante, aeronave que também foi “aposentada” e cuja doação para a UFSM ainda está em tramitação na FAB.

EMB-110 Bandeirante da Força Aérea Brasileira semelhante ao doado à universidade

A universidade também solicitou para a FAB algumas toneladas de peças e partes de aviões que tiveram como destino o descarte no Parque de Material Aeronáutico de São Paulo. Esse pedido inclui a doação de motores, asas, empenagens, trens de pouso, instrumentos de cabine, caixas-pretas, antenas, sensores, radares, computadores de bordo, transpônderes e sistemas de navegação, controle e freio, entre várias outras peças. Parte do material solicitado já está sendo separado no parque para a UFSM.

Uma visita de uma comitiva da universidade a esse parque, em outubro de 2018, marcou o início do processo de demanda para a FAB de aeronaves e equipamentos descartados. Recebida pelo coronel-aviador Marcos Dias Marschall, a comitiva da UFSM era formada pelo hoje reitor Luciano Schuch (então vice-reitor) e pelos professores André Luis da Silva e Marcelo Serrano Zanetti. André era então coordenador do curso de Engenharia Aeroespacial, e nesse cargo foi sucedido pelo professor Marcos Daniel de Freitas Awruch, enquanto que Zanetti era coordenador substituto do curso de Engenharia de Telecomunicações e hoje é coordenador da Engenharia de Computação.

Zanetti explica que a doação dos aviões e das peças justifica-se pela necessidade de que os alunos do curso de Engenharia Aeroespacial tenham algo de palpável para observar, montar, desmontar e fazer experiências. Deste modo, o seu conhecimento sobre o projeto, construção e funcionamento de aeronaves não ficará restrito a teorias lidas nos livros e ouvidas em sala de aula e a simulações por computador.

O professor enfatiza ainda que a construção do hangar e a obtenção dos aviões e peças é uma demanda feita em conjunto com o curso de Engenharia de Telecomunicações da UFSM, para o qual os radares, sensores, antenas e sistemas de navegação a serem doados pela FAB também constituem objetos de estudo.

A análise dos circuitos e dispositivos que compõem esses equipamentos vai ajudar os alunos da Engenharia de Telecomunicações a entender e sedimentar os conhecimentos transmitidos em sala de aula. Criado também em 2014, o curso é atualmente coordenado pelo professor Natanael Rodrigues Gomes.

Segundo Zanetti, a Engenharia Aeroespacial é um curso que engloba competências de todas as outras engenharias e também de cursos de outras áreas do conhecimento. Por isso, o hangar da UFSM – muito mais do que um depósito de aeronaves e peças – será um espaço que poderá ser aproveitado por vários cursos da universidade para atividades de ensino e pesquisa, além do potencial para o emprego em ações de extensão, como visitas de escolas e de interessados por aviação em geral.

Dimensões e compartimentos

O prédio do hangar terá aproximadamente 40 metros de comprimento por 25 metros de largura, e altura de seis metros. O pé-direito dessa altura é necessário para que o leme – que fica na cauda e é a parte mais alta de um avião – não bata no teto. E haverá uma porta de 20 metros de comprimento para que os aviões possam entrar e sair do hangar sem a necessidade de retirar as asas.

Imagem: UFSM

No entanto, o espaço para o armazenamento dos aviões não vai ocupar o comprimento total do prédio. No canto direito do hangar, haverá um espaço dividido em três dependências: uma para oficina e banheiros, outra para sala de aula e uma terceira onde será instalado o túnel de vento aerodinâmico que, desde 2019, se encontra no Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento em Engenharia Elétrica (Nupedee), localizado no Pavilhão de Laboratórios do Centro de Tecnologia (CTLab). Sobre essas três salas, haverá ainda um mezanino, que terá a possibilidade de abrigar projetos vinculados aos cursos de Engenharia Aeroespacial e Engenharia de Telecomunicações.

O professor Zanetti informa também que atrás do hangar, a cerca de 20 metros de distância, está prevista a construção do Laboratório de Propulsão Aeroespacial, que terá como finalidade principal a realização de testes de motores de foguete.

Imagem: UFSM

Aviões

Embora sejam aeronaves com características bastante distintas uma da outra, tanto o AMX A-1 quanto o Bandeirante são aviões históricos da Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer). O primeiro é fruto de um projeto de cooperação com as empresas italianas Aeritalia e Aermacchi, tendo voado pela primeira vez em 1984. Com velocidade máxima estimada em 1.030 km/h, é um caça destinado ao combate aéreo, ataque ao solo e reconhecimento. No caso da aeronave doada para a UFSM, a sua matrícula na FAB é 5655.

Também conhecido pela sigla EMB-110, o Bandeirante é um dos aviões mais importantes da história da aviação brasileira, por ser a primeira aeronave fabricada pela Embraer. O projeto deste avião bimotor turboélice começou antes mesmo da criação da Embraer, que foi fundada em 1969. O voo inaugural foi em 1972, e a primeira entrega de Bandeirantes para a FAB foi no ano seguinte. Até 1991, quando a Embraer encerrou a sua fabricação, foram produzidos 498 aviões Bandeirantes, em diferentes versões, vendidas para vários países, para uso tanto civil como militar. Estima-se que a sua velocidade máxima seja de pouco mais de 400 km/h.

Aviões Bandeirantes e AMX já sobrevoaram o campus sede da UFSM inúmeras vezes, seja para pousar ou após decolar da Base Aérea. Quando o hangar da universidade estiver concluído (o término da obra está previsto para janeiro de 2023), as duas aeronaves doadas para a UFSM terão o seu local de pouso definitivo, para cumprir a sua última missão: servir como material de ensino, pesquisa e extensão para a comunidade acadêmica.

Informações da Universidade Federal de Santa Maria

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Juliano Gianotto
Juliano Gianotto
Ativo no Plane Spotting e aficionado pelo mundo aeronáutico, com ênfase em aviação militar, atualmente trabalha no ramo de fotografia profissional.

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