A crise que a pandemia do coronavírus trouxe para o setor da aviação mundial continua deixando sequelas no mercado. Com a brusca redução da demanda de passageiros, principalmente em viagens internacionais, o aeroporto de Paris – Charles de Gaulle, ultrapassou o aeroporto londrino de Heathrow como o hub mais movimentado da Europa.
Segundo o CEO do aeroporto de Londres, John Holland-Kaye, a perda da posição de principal hub europeu se deve ao fato do Reino Unido não ter disponibilizado testes aos viajantes recém chegados, exigindo que eles permaneçam em quarentena de 14 dias após chegada em Londres.
Heathrow contabilizou, desde o início de 2020 até setembro, um movimento de 18,97 milhões de passageiros, contra 19,27 milhões de passageiros do aeroporto da capital francesa.
“O aeroporto central do Reino Unido não é mais o aeroporto mais movimentado da Europa, concorrentes como Charles de Gaulle nos ultrapassaram em termos de número de passageiros, pois se beneficiam de um regime de testes”, disse Heathrow em comunicado através do seu site.
Os dois líderes de movimentação de passageiros estão sendo seguidos de perto pelo aeroporto Schiphol de Amsterdã (17,6 milhões) e Frankfurt na Alemanha (16,16 milhões). Todos os 3 aeroportos (Paris, Amsterdã e Frankfurt) estão atuando com testes para os passageiros recém chegados em seus respectivos países
Além de ter perdido o posto de principal hub da Europa, o aeroporto do oeste londrino relatou uma perda de £1,5 bilhão nos primeiros nove meses de 2020 e viu seu movimento cair 84% no terceiro trimestre desse ano em relação ao mesmo período de 2019.
John Holland diz que tem pressionado as autoridades competentes pela implantação de testes nos passageiros como forma de fomentar um aumento no movimento e manter a indústria da aviação e das viagens funcionando.
Passando pra trás
“A Grã-Bretanha está ficando para trás porque temos sido muito lentos para aceitar os testes de passageiros. Os líderes europeus agiram mais rápido e agora suas economias estão colhendo os benefícios. Paris ultrapassou Heathrow como o maior aeroporto da Europa pela primeira vez, e Frankfurt e Amsterdã estão ganhando terreno rapidamente. Vamos fazer da Grã-Bretanha uma vencedora novamente. A realização de testes COVID pré-partida e a parceria com nossos aliados dos EUA para abrir uma ponte-aérea piloto para a América do Norte dará início à nossa recuperação econômica e colocará o Reino Unido de volta à frente de nossos rivais europeus”.
Com a exigência da quarentena de 14 dias, ficam praticamente impraticáveis as viagens de negócios e de lazer para todo o Reino Unido, aumentando ainda mais a crise que assola, não só o setor aéreo, mas toda a economia do Reino.
“Não temos o direito de ser a quinta maior economia do mundo. A menos que tomemos medidas para proteger a economia, não apenas perderemos nossa posição, mas, o que é mais importante, perderemos empregos”, disse Holland-Kaye ao programa Ian King Live da Sky. Ele enfatizou também, que os resultados do aeroporto deveriam ser um alerta ao governo que, se nada for feito para proteger a economia, eles ficarão para trás.
“Estamos pedindo um padrão internacional comum para testes em aeroportos desde abril e ainda não vimos uma ação real do governo sobre isso”, acrescentou o presidente-executivo.
Protestando
Mas mesmo com todo o ar de protesto em sua fala, John Holland-Kaye mostrou entusiasmo em suas últimas conversas com representantes do governo. Uma força-tarefa foi lançada no início de outubro visando reduzir o período de duas semanas exigido para passageiros oriundos de países com menor risco. Essa força-tarefa deve apresentar um relatório sobre o tema no início de novembro e, segundo o executivo, as reuniões foram “muito encorajadoras”
“Poderíamos estar prontos e funcionando para todo o Reino Unido até o final de novembro (com testes de passageiros)”, disse ele, acrescentando que – além de testar chegadas – ele queria testar partidas de teste, primeiro na movimentada Londres- Rota de Nova York. “Precisamos de ação do governo para proteger milhões de empregos neste país e reabrir nossas fronteiras com segurança por meio de testes é a maneira de fazê-lo.”
Os gestores do aeroporto de Heathrow esperam atender, até o final do ano, 22,6 milhões de passageiros (queda de 72% em relação a 2019) e, em 2021, esperam ver esse número crescer para 37,1 milhões. Números menores que a previsão de junho, que era de 29,2 milhões em 2020 e 62,8 milhões em 2021.
Mesmo com a receita tendo caído 72% no terceiro trimestre, os números orçamentários do aeroporto permanecem “robustos” com £4,5 bilhões de liquidez e que tem reservas de caixa para os próximos 12 meses, mesmo em um cenário extremo sem receitas.