Produção de combustíveis sustentáveis segue perdendo a enorme oportunidade da demanda da aviação

Imagem: tbtb, via Depositphotos

A Associação Internacional de Transportes Aéreos (IATA), associação comercial das companhias aéreas do mundo, representando cerca de 320 companhias aéreas ou 83% do tráfego aéreo total, divulgou nesta semana as estimativas para a produção de Combustível de Aviação Sustentável (SAF).

Em 2023, os volumes de SAF atingiram mais de 600 milhões de litros (0,5 Mt), o dobro dos 300 milhões de litros (0,25 Mt) produzidos em 2022. O SAF foi responsável por 3% de todos os combustíveis renováveis ​​produzidos, com 97% da produção de combustíveis renováveis ​​indo para outros setores.

Em 2024, espera-se que a produção de SAF triplique para 1,875 mil milhões de litros (1,5Mt), esse volume representa apenas 0,53% da necessidade de combustível da aviação e 6% da capacidade de combustível renovável. Segundo a IATA, essa pequena percentagem da produção de SAF em relação ao combustível renovável total deve-se principalmente ao fato de que a nova capacidade produtiva que está entrando em funcionamento em 2023 será atribuída a outros combustíveis renováveis.

Com isso, o setor de produção de combustíveis sustentáveis segue perdendo a enorme oportunidade da demanda da aviação, havendo a necessidade de apoio dos governos com políticas públicas de incentivo.

Willie Walsh, Diretor Geral da IATA, ressalta que a duplicação da produção de SAF em 2023 foi encorajadora, assim como a esperada triplicação da produção em 2024, mas, mesmo com esse aumento impressionante, crescerá apenas de 3% neste ano para 6% em 2024 como parte de toda a produção de combustíveis renováveis, e esta alocação limita a oferta de SAF e mantém os preços elevados.

“A aviação necessita entre 25% e 30% da capacidade de produção de combustíveis renováveis ​​para SAF. Nesses níveis, a aviação estará na trajetória necessária para atingir zero emissões líquidas de carbono até 2050. Até que esses níveis sejam alcançados, continuaremos a perder enormes oportunidades para avançar na descarbonização da aviação. É a política governamental que fará a diferença. Os governos devem priorizar políticas para incentivar o aumento da produção de SAF e diversificar as matérias-primas com as disponíveis localmente”, alerta Walsh.

Resultado da CAAF/3

A Terceira Conferência sobre Combustíveis Alternativos para a Aviação (CAAF/3), realizada pela Organização da Aviação Civil Internacional (OACI/ICAO), definiu um quadro global para promover a produção de SAF em todas as geografias, para que os combustíveis utilizados na aviação internacional sejam 5% menos intensivos em carbono até 2030. Para atingir esse nível, serão necessários cerca de 17,5 bilhões de litros (14Mt) de SAF.

“Os governos querem que a aviação tenha saldo líquido zero de emissões até 2050. Tendo estabelecido uma meta provisória no processo CAAF, precisam agora fornecer medidas políticas que possam alcançar o aumento exponencial necessário na produção de SAF”, disse Walsh.

Segundo a IATA, a demanda não é o problema: cada gota de SAF produzida até agora foi comprada e usada. Com isso, o SAF adicionou o recorde de 756 milhões de dólares na conta do combustível em 2023. Pelo menos 43 companhias aéreas já se comprometeram a utilizar cerca de 16,25 mil milhões de litros (13Mt) de SAF em 2030, com mais acordos a serem anunciados regularmente.

Portanto, desbloquear a oferta para satisfazer a procura é o desafio que precisa de ser resolvido: as projeções apontam para a produção de mais de 78 mil milhões de litros (63Mt) de combustíveis renováveis ​​em 2029. Os governos devem definir um quadro político que incentive os produtores de combustíveis renováveis ​​a atribuir 25-30% da sua produção para a SAF para cumprir a ambição do CAAF/3, as políticas regionais e nacionais existentes, bem como os compromissos das companhias aéreas.

Objetivos políticos

Para a IATA, incentivos eficazes à produção de SAF devem apoiar os seguintes objetivos:

– Acelerar investimentos em SAF por empresas petrolíferas tradicionais;

– Garantir incentivos à produção de combustíveis renováveis para ​​incentivar quantidades suficientes de SAF;

– Focar as partes interessadas na diversificação regional da matéria-prima e da produção de SAF;

– Identificar e priorizar projetos de produção de alto potencial para apoio ao investimento;

– Fornecer uma estrutura contábil global de SAF.

Desbloqueando a Diversificação

Aproximadamente 85% das instalações de SAF que entrarão em operação nos próximos cinco anos usarão a tecnologia de produção de hidrotratamento (HEFA), que depende de gorduras animais não comestíveis (sebo), óleo de cozinha usado e graxa industrial como matéria-prima. Quantidades limitadas destes requerem políticas para:

– Diversificar a produção de SAF aumentando a produção através de vias já certificadas, em particular o Alcohol-to-Jet (AtJ) e Fischer-Tropsch (FT) que utilizam sobras e resíduos biológicos/agrícolas;

– Promover investimentos e a aceleração da certificação para novos caminhos de produção de SAF atualmente em fase de desenvolvimento;

– Identificar mais matérias-primas potenciais para aproveitar todas as tecnologias de SAF para proporcionar diversificação e opções regionais, incluindo aquelas com benefícios colaterais, como a restauração ambiental.

Apoio ao Passageiro

Uma pesquisa recente da IATA revelou um apoio público significativo ao SAF. Cerca de 86% dos viajantes concordaram que os governos deveriam fornecer incentivos à produção para que as companhias aéreas pudessem ter acesso ao SAF. Além disso, 86% concordaram que deveria ser uma prioridade para as empresas petrolíferas fornecer SAF às companhias aéreas.

Murilo Basseto
Murilo Bassetohttp://aeroin.net
Formado em Engenharia Mecânica e com Pós-Graduação em Engenharia de Manutenção Aeronáutica, possui mais de 6 anos de experiência na área controle técnico de manutenção aeronáutica.

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