Empresa aérea que já foi de criminosos russos fez 120 voos para o governo dos EUA

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Monarch Air Group Projects 32% Growth by the End of 2016
IMAGEM: Divulgação Monarch Air Group

O Governo dos Estados Unidos já contratou serviços de uma companhia aérea de jatos executivos que já pertenceu a duas importantes figuras envolvidas com o crime organizado russo, mas que, ao que consta, já deixaram a sociedade. Nos últimos anos, a Monarch Air Group ganhou mais de 120 contratos com os EUA no valor de mais de US$ 6 milhões, e estava fazendo voos para o governo até setembro de 2020.

A informação foi dada pelo Projeto de Reportagem sobre Corrupção e Crime Organizado (OCCRP, na sigla em inglês), um consórcio de centros de investigação, mídia e jornalistas que operam na Europa Oriental, Cáucaso, Ásia Central e América Central. O OCCRP é uma organização investigativa especializada em crime organizado e corrupção fundado em 2006.

De acordo com o OCCRP, a Monarch Air Group era, até 2012, propriedade de Anatoly Golubchik e Vadim Trincher, que foram presos em 2014 por operar uma rede ilegal de apostas e extorsão em um apartamento na Trump Tower, na cidade de Nova Iorque. Dois outros investigados também comandaram a companhia aérea e um fugiu após a emissão de um mandado de prisão nos Estados Unidos e continua foragido.

A companhia aérea e sua afiliada, WAB International, receberam contratos para missões delicadas, como o carregamento de combustível em Israel para o Departamento de Defesa (DoD), viagens estratégicas para o Afeganistão e o transporte de testemunhas protegidas.

Prisão

Golubchik e Trincher deixaram a Monarch em 2012, antes que a companhia aérea ganhasse os contratos do Departamento de Defesa (DOD) e da General Services Administration (GSA). Mas, naquele período, ambos já eram amplamente conhecidos pela Polícia Federal norte-americana (FBI). A empresa é atualmente propriedade do filho de Golubchik, o ex-parceiro de negócios de Trincher.

Gary Kalman, diretor da seção dos EUA da Transparência Internacional, disse ao OCCRP que “A negligência é surpreendente. Companhias aéreas com histórico de afiliação criminosa contratadas pelo governo para transportar testemunhas protegidas é algo que esperaríamos ver em um romance de espionagem, não em uma reportagem”.

Em 2013, agentes alfandegários em Miami descobriram 16 kg de cocaína em um dos aviões da Monarch. No mesmo ano, Golubchik e Trincher também foram acusados de usar a companhia e outras empresas para lavagem de até US$ 100 milhões.

O US Marshals Service, unidade judiciária do FBI, disse a repórteres que colocou testemunhas protegidas em aviões Monarch por meio de contratos supervisionados pela GSA, que fornece leasing, gerenciamento e outros serviços profissionais para agências governamentais dos EUA. A GSA não respondeu aos pedidos de contato da imprensa.

Os Regulamentos de Aquisição Federal exigem que fornecedores de serviços como a Monarch repassem detalhes de quaisquer infrações criminais cometidas por seus funcionários, mesmo que não se relacionem diretamente com o contrato, de acordo com Jessica Tillipman, professora da Escola de Direito da Universidade George Washington com experiência em anticorrupção e contratação governamental. A agência é então solicitada a fazer mais investigações e fica a seu critério decidir se trabalhará com a empresa.

O atual proprietário da Monarch, David Gitman, não respondeu a um pedido de comentário.

A empresa foi fundada em 2006 e divulga em seu site ser líder no fretamento aéreo para “agências governamentais e clientes exigentes em todo o mundo”, entre eles “as Nações Unidas, os departamentos de defesa dos Estados Unidos e Canadá, o Programa Mundial de Alimentos e várias ONGs”. A sede fica na cidade de Fort Laudardale, na Flórida.

Fabio Farias
Fabio Farias
Jornalista e curioso por natureza. Passou um terço da vida entre aeroportos e aviões. Segue a aviação e é seguido por ela.

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