Fusão de Latam e Azul é uma possibilidade que está em discussão, diz Jerome Cadier

Num movimento totalmente inesperado, duas das maiores empresas aéreas do Brasil, Latam Brasil e Azul, declararam pela manhã terem assinado um acordo de compartilhamento de voos. Mais tarde, o CEO da Latam Brasil, Jerome Cadier, disse que a fusão é uma das cartas que estão na mesa, segundo a CNN Brasil.

Com a volta da demanda muito mais lenta do que o esperado, não houve companhia aérea no mundo que não teve que tomar decisões difíceis. Assim, com o anúncio de hoje, ficou mais do que evidente que a luta das empresas aéreas brasileiras não é por mercado ou passageiros, mas pela sobrevivência.

Nessa turbulência, cada um se agarra ao que tem para não ser levado pela correnteza, mas, mesmo assim está difícil.

A Latam está numa situação complexa. A empresa já anunciou uma redução significativa de tamanho, demissões massivas, entrou em recuperação judicial nos EUA, cobrindo algumas de suas unidades na América Latina (o Brasil não entrou no processo, diga-se). Além disso, por sua estrutura societária e por não ter capital aberto no Brasil, uma ajuda do governo brasileiro será muito difícil.

Do outro lado há a Azul, que também luta para equilibrar seu caixa com tantas aeronaves arrendadas e pagando em dólar. A entrega dos Embraer E2 foi postergada para além de 2024 e um pacote ainda está sendo negociado para que não haja demissões massivas.

É possível imaginar o clima de desolação dentro das empresas aéreas e a tensão dos executivos que não vêem os números melhorarem.

Analistas projetam que o retorno vai demorar. As pessoas ainda estão receosas, priorizando outras coisas, poucas querem voar. As empresas, por sua vez, estão trocando viagens por conferências em vídeo, que vieram para ficar e, de uma vez por todas, eliminarão uma quantidade inimaginável de viagens.

E, sem passageiros, não há empresa aérea que pare em pé.

Fusão na mira?

Há seis meses, pensar numa parceria tão íntima de Azul e Latam seria algo inimaginável. Ambas cresciam, demonstravam sinais que estavam se sanitizando, rumo ao lucro, mas agora tudo mudou.

Ao firmar essa parceria, ambas assumem que nada será como antes e que seu tamanho será diminuto por um longo tempo. Para que possam sobreviver minimamente, uma passa a ser parte da malha aérea da outra e elas competem em apenas algumas poucas rotas.

E esse pode ser um possível “namoro” que tem a chance de acabar em “casamento”. Afinal, é algo muito incomum encontrar acordos de codeshare tão amplos entre empresas do mesmo país.

Mais tarde, ainda nesta terça-feira movimentada, o CEO da Latam, Jerome Cadier deu uma entrevista à CNN. Nela, o executivo admitiu que “uma fusão com a Azul até pode ocorrer no futuro”.

Ele explicou que as negociações para uma eventual união das duas empresas são complexas e inviáveis neste momento por causa da crise, enquanto o “codeshare” é bem mais simples, disse a CNN.

Se isso se concretizar, no longo prazo será ruim para os passageiros. Com ainda menos concorrência, os preços tendem ao infinito, mas enfim, é o que tem para hoje.

Carlos Ferreira
Carlos Ferreira
Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.

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