Jovem paulista é o primeiro cadeirante autorizado a iniciar curso de piloto de planador

Adriel Aparecido da Silva – Imagem: Arquivo pessoal

Um homem morador do interior de São Paulo ganhou visibilidade nas últimas semanas, após se tornar o primeiro cadeirante do Brasil a conseguir autorização da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) para iniciar o curso de piloto de planador.

Adriel Aparecido da Silva de 29 anos, morador de Rio Claro, trabalha na área comercial de uma fábrica de cadeira de rodas e passou cerca de sete anos tentando obter seu certificado para o curso. De acordo com o g1, o Certificado Médico Aeronáutico (CMA), registro que dá licença para iniciar as aulas em planadores, foi emitido no último dia 10 de março, sendo um motivo de grande alegria para o jovem.

“É um sonho realizado. Eu sempre digo que a cadeira de rodas nunca me limitou e não vou parar por aí. Quero poder abrir portas para que outras pessoas que estão na mesma condição que a minha também possam entender que elas são capazes de realizar seus sonhos, mesmo quando eles parecem ser muito difíceis”, disse Adriel.

Adriel comenta que, mesmo com todas as dificuldades impostas pela sua locomoção, ele nunca desistiu de tentar a carreira de piloto e enfrentou o processo na ANAC para alcançar os objetivos.

“Aos olhos da Anac, eu estava fora do padrão. Cadeirante querendo voar, a Anac não autoriza. Então foi preciso entrar com um recurso para que eles analisassem meu caso. Era um processo complicado, demorado, mas corri atrás de tudo, de todos os documentos para que fosse possível tornar isso uma realidade”, comenta Adriel.

Como próximo passo, agora ele deverá cumprir todas as aulas teóricas e práticas, além de passar na banca da ANAC para estar apto a pilotar uma aeronave. O jovem conta que tem como objetivo ser instrutor de voo e piloto acrobático para disputar campeonatos.

Para as aulas de voo, Adriel pede ajuda e busca patrocinadores para arcar com as despesas.

“Quero lutar para que o mundo da aviação seja mais inclusivo, quero poder abrir portas para que outras pessoas nessas condições também conquistem seu espaço”, disse.

História de vida

O Aeroclube de Rio Claro, local de relevância em planadores no Brasil, o jovem conta que frequentava desde os três anos e que seu pai trabalhava como mecânico de aeronaves e sempre incentivava que ele seguisse carreira como piloto.

Adriel nasceu prematuro de seis meses, e tal condição resultou em seus tendões não sendo capazes de se desenvolver por completo, levando a um encurtamento e impossibilitando que ele desse mais do que poucos passos.

Ele chegou a fazer diversas cirurgias para diminuir a limitação na sua locomoção, mas um acidente de carro aos 12 anos fez com que suas pernas ficassem presas às ferragens e ele perdeu boa parte do que havia sido restaurado durante as cirurgias. O jovem perdeu o pai na ocorrência.

Seu primeiro sonho era fazer parte da Força Aérea Brasileira (FAB) e integrar a equipe da Esquadrilha da Fumaça, no entanto, as dificuldades dos testes para ingresso fizeram com que ele desistisse e se voltasse para a aviação civil.

Sua nova paixão foi desaflorada depois que ele realizou um voo de planador com instrutores de Rio Claro, que fez com que ele vislumbrasse a possibilidade de obter uma licença para tal atividade.

“Se o cadeirante pode dirigir, ele pode pilotar também, ele pode voar. Foi pensando nisso que eu falei para mim mesmo que eu faria dar certo”, concluiu.

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Juliano Gianotto
Juliano Gianotto
Ativo no Plane Spotting e aficionado pelo mundo aeronáutico, com ênfase em aviação militar, atualmente trabalha no ramo de fotografia profissional.

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