A demissão surpreendente do primeiro-ministro português, Antônio Costa, em 7 de novembro, colocou em risco a privatização da TAP Air Portugal, de acordo com informações da imprensa portuguesa.
Costa renunciou após a polícia invadir sua residência oficial em meio a uma investigação de corrupção envolvendo membros próximos a ele e projetos relacionados à mineração de lítio, energia verde e um centro de dados. Embora tenha afirmado estar “surpreso” com o caso e negado qualquer irregularidade, Costa explicou que a gravidade do assunto era “incompatível com a dignidade do cargo de primeiro-ministro”, obrigando-o a renunciar.
O governo atual agora deve atuar apenas em um papel interino até que o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, decida sobre a organização de eleições ou permita que os socialistas no poder formem um novo governo. Costa afirmou que permanecerá no cargo até ser substituído, mas cabe ao presidente decidir a data da sua saída.
A crise política resultará na paralisação e adiamento de muitos projetos estratégicos do país, o que é inevitável, de acordo com o economista João Duque, em entrevista à Reuters. A queda abrupta do governo afeta a imagem externa do país, uma vez que está associada a supostos casos de corrupção, e não a questões políticas.
A mídia local também ressaltou que uma série de “dossiês estratégicos importantes” que estavam em pauta no governo agora estão comprometidos, como a privatização da TAP, o Orçamento do Estado para 2024 e a decisão sobre um novo aeroporto para Lisboa.
Embora o governo português tenha aprovado um decreto no início de outubro para iniciar o processo de reprivatização da TAP, com a venda de pelo menos 51% da empresa e a reserva de 5% para os trabalhadores, Rebelo de Sousa vetou o decreto no final de outubro devido a preocupações com a falta de transparência no processo, solicitando que o governo resolvesse essas questões.
Miguel Frasquilho, economista e ex-presidente da TAP, afirmou à Reuters que a privatização, que despertou o interesse do Grupo Lufthansa, Air France-KLM e Grupo IAG International Airlines, provavelmente será suspensa e só poderá prosseguir com um novo governo.
Ele acrescentou, no entanto, que o valor de venda da companhia aérea pode melhorar com uma espera mais longa, considerando que a restruturação imposta para tornar a empresa lucrativa e sustentável está produzindo resultados positivos e o governo não deve apressar a privatização.