Redução de voos por hora no Aeroporto da Cidade do México gera critica do setor e da IATA

Imagem: Boarding2Now, via Depositphotos

A Agência Federal de Aviação Civil (AFAC) do México anunciou sua decisão de reduzir o número total de operações de pouso e decolagem no Aeroporto Internacional da Cidade do México (AICM) de 52 para 43 por hora.

A redução na capacidade, que ocorre um ano após a redução das operações permitidas por hora de 62 para 52, entrará em vigor a partir de 29 de outubro próximo e terá um impacto significativo no planejamento das companhias aéreas e nos passageiros.

De acordo com o governo mexicano, essa decisão foi tomada com base em uma análise realizada pela Direção-Geral do AICM e pelos Serviços de Navegação no Espaço Aéreo Mexicano (SENEAM) em relação à capacidade de atendimento das terminais 1 e 2, bem como à capacidade do espaço aéreo.

O primeiro estudo revelou que, ao longo do ano, o número máximo de passageiros atendidos por hora em cada terminal do AICM foi excedido em mais de 25 ocasiões. Além disso, o estudo do SENEAM demonstrou que “o número de operações ideais que podem ser atendidas por hora depende da configuração do aeródromo, infraestrutura, tempo de ocupação da pista durante decolagens e aterrissagens para diferentes tipos de aeronaves, intervalos de separação entre as aeronaves, restrições nas pistas de taxiamento e a composição da frota das companhias aéreas“.

Segundo as autoridades, essa medida será temporária e permanecerá em vigor enquanto persistirem as condições de saturação no AICM, informa o Aviacionline.

As companhias aéreas já haviam expressado preocupação com a nova redução na capacidade do principal aeroporto da América Latina.

A Câmara Nacional de Aerotransportes (CANAERO) do México havia afirmado que “uma redução adicional e unilateral afetaria gravemente o planejamento das operações” e poderia levar a uma “cancelamento em massa de voos que prejudicaria a posição internacional do país“. Além disso, essa decisão poderia complicar os esforços para que o México retorne à Categoria 1 da Administração Federal de Aviação (FAA) dos Estados Unidos, devido ao problema subjacente da infraestrutura antiga e deteriorada no AICM.

IATA: AICM precisa de investimento, não de restrições

Após o governo mexicano oficializar a redução na capacidade do aeroporto, a Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA) emitiu um duro comunicado expressando sua desaprovação e questionando o que chamaram de decisão unilateral que diverge das práticas internacionais e da indústria.

Essas práticas indicam que as mudanças na capacidade devem ser realizadas por meio de processos colaborativos envolvendo todas as partes interessadas, garantindo assim transparência, previsibilidade e certeza.

Esta decisão do governo não leva em consideração os interesses dos consumidores e não respeita o procedimento consultivo necessário com os operadores e usuários, especialmente no principal aeroporto do país. Essas medidas devem ser adotadas com o máximo rigor técnico e operacional, baseadas em estudos e análises de especialistas. Neste caso, questionamos a metodologia utilizada pelo SENEAM, AFAC e AICM para determinar a capacidade do aeroporto“, afirmou Peter Cerdá, vice-presidente regional da IATA para as Américas, em um comunicado no qual também se colocam à disposição do governo para colaborar na busca de soluções.

A IATA enfatiza a contradição do governo mexicano, uma vez que em 2018 um estudo realizado por eles próprios confirmou a viabilidade de permitir com segurança um máximo de 72 operações por hora.

O organismo também destacou como, teoricamente, o governo obrigou a transferência das operações de carga para o AIFA (Aeroporto Internacional Felipe Ángeles) para facilitar o início das obras de melhoria no AICM (Aeroporto Internacional da Cidade do México), que nunca foram iniciadas.

Sobre isso, Cerdá afirmou especificamente que “o problema do AICM não é a capacidade de operações, mas sim a antiguidade e o estado de deterioração da infraestrutura que requer intervenção imediata para modernizar as terminais 1 e 2”.

Por várias décadas, o Aeroporto Internacional da Cidade do México tem sido o mais movimentado da América Latina e do Caribe, exceto por um breve período entre 2016 e 2019, quando foi superado por São Paulo/Guarulhos.

Em 2022, o Aeroporto Internacional da Cidade do México movimentou 46,6 milhões de passageiros. No entanto, essa liderança não foi acompanhada por investimentos que permitissem otimizar ainda mais suas operações.

O aeroporto ficou em uma situação complicada, com projetos para substituí-lo completamente, como o de Texcoco (que foi descartado), e projetos para complementá-lo, como o Aeroporto Internacional Felipe Ángeles, que se tornou um símbolo da gestão aeronáutica do presidente mexicano López Obrador, embora tenha sido prejudicado pela perda da Categoria 1 pela Administração Federal de Aviação dos Estados Unidos (uma questão que a IATA considera prioritária).

Ao mesmo tempo, o potencial do México é imenso, com uma abundância de destinos turísticos. A missão conjunta deve ser levar esse meio de transporte essencial a todos os cantos do país, tornando as viagens aéreas mais acessíveis“, afirmou a IATA. Eles detalharam que, em 2021, o transporte aéreo no México foi responsável pela geração de 1,3 milhão de empregos e contribuiu com US$ 46,8 bilhões para o PIB do país.

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Juliano Gianotto
Juliano Gianotto
Ativo no Plane Spotting e aficionado pelo mundo aeronáutico, com ênfase em aviação militar, atualmente trabalha no ramo de fotografia profissional.

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