Voando na cabine executiva do A350 que iria para a Rússia, mas tem voado ao Brasil

O AEROIN teve uma experiência a bordo de um dos poucos jatos Airbus A350 que estão em configuração de uma empresa banida em vários países: a russa Aeroflot.

Fotos – Clément Alloing e Aeroflot

Com a invasão da Ucrânia, a empresa de bandeira da Rússia ficou impedida de voar na maior parte do Ocidente desenvolvido, assim como não pode receber mais aeronaves fabricadas por Boeing, Airbus ou Embraer.

No entanto, quando as sanções foram colocadas, a empresa contava com um grande pedido de jatos junto à Airbus, que já tinha entregue alguns modelos A350 para voos de longa distância. Sem poder entregar os demais, a fabricante francesa os ofereceu à Turkish, que topou receber os aviões para ajudar a atender à demanda da retomada das viagens.

Ao todo foram 5 aeronaves, de matrículas TC-LGI, LGJ, LGK e LGL, fabricadas originalmente para a Aeroflot e hoje na empresa turca. Durante um breve período elas voaram com pintura híbrida, mas logo foram pintadas nas cores da Turkish. Por dentro, nem tudo foi modificado, como mostra este Flight Report de Istambul até São Paulo no TC-LGK.

O novo aeroporto de Istambul

Começar a jornada em Istambul sem destacar o novo aeroporto seria cortar quase metade da experiência do voo. Bastante afastado da cidade (45 minutos de carro) e com metrô recém-inaugurado, o novo Aeroporto Internacional de Istambul é o maior do mundo em área.

Ele foi construído numa região que existiam várias minas de carvão desativadas, que foram aterradas para que o imenso aeroporto pudesse ser construído com suas 5 pistas de operação simultânea e que tem um táxi após o pouso de 15 minutos (em média).

A entrada chama a atenção pelos passadiços: no nível do check-in, apenas entra, e no nível abaixo (que é bem alto) apenas a saída. Além de dividir o fluxo, outro motivo para isso é que todos grandes locais turísticos da Turquia, como aeroportos, hotéis, estádios, pontos turísticos, possuem raio-x na entrada, uma medida de segurança para evitar terrorismo no país que une a Europa e Ásia.

Passada a inspeção, existem várias “ilhas” de check-in, com grandes sinalizadores, separados pela Turkish Airlines (e subdivisões Doméstica, Internacional, Executiva), além de outras empresas aéreas.

Nos dirigimos até o check-in internacional da Executiva e a área parecia um verdadeiro lounge VIP, com água na mesa (sem controle de acesso e disponível para qualquer pessoa no aeroporto), cadeiras confortáveis e sofás que ficam no balcão para que você fosse atendido como se estivesse num papo entre amigos.

O check-in da Executiva foi feito de maneira rápida, lembrando que não foi possível antecipar o procedimento online, talvez pelo fato do avião ter configuração diferente como será tratado mais à frente.

Com cartão de embarque em mãos, era hora de seguir para a inspeção de segurança e imigração. Clientes da Business e Star Alliance Gold viajando Turkish têm acesso ao Fast Pass, que é uma imigração mais rápida.

Tanto nesta fila premium como na normal chama a atenção a quantidade de guichês, sendo no máximo 10 a 15 minutos no total para passar pela imigração, que estava cheia no final da manhã.

Passados os trâmites alfandegários, se chega na grande área do aeroporto, com uma infinidade de lojas. Um detalhe interessante é que os preços sempre são mostrados em euros, embora nos caixas se aceitem notas de Dólar Americano, Euro ou Lira Turca, mas no cartão é cobrado apenas em Lira Turca.

Acima das lojas ficam as salas VIP. Ali também está a da Turkish para a Executiva, recém-inaugurada. Ela conta com acesso automatizado por catracas, bastando apenas apresentar o cartão de embarque.

Formato aberto do lounge chama a tenção

Logo à entrada fica à esquerda a área de duchas, quartos (apenas para passageiros com conexão de 6 horas ou mais) e massagens. Na direita, há um longo corredor com estações de alimentação, bebidas e cadeiras.

Se destaca como sempre a culinária turca, sempre com bons temperos e bastante fartura. Talvez por questão religiosa as bebidas alcoólicas, com exceção da cerveja (que inclusive tinha um espaço da Heineken e da Champions League, por causa da final do torneio), não têm muito destaque. Não existe um bar propriamente dito.

Os banhos têm agendamento necessário e a fila pode demorar até 1h, recomenda-se entrar e logo procurar a área da ducha se quiser se refrescar antes do voo.

Embarcando num voo de 13 horas

Com embarque iniciado, saímos do lounge e nos dirigimos até o portão de embarque, numa das extremidades do aeroporto. Foram 12 minutos de caminhada, sendo necessário descer para um piso inferior onde é o embarque de fato, sendo que a área das salas VIP e lojas funciona como uma “antessala” bastante cheia, com os portões bem vazios.

O desembarque internacional se dá pelas laterais num nível intermediário mas tudo bem aberto, sem separações por vidro, apenas por andares diferentes, conceito que é adotado por todo o aeroporto.

O embarque é feito numa ponte reta que se divide em duas no meio, com acesso à parte da frente, exclusivo para a executiva. Logo ao entrar na aeronave somos recebidos por uma comissária e pelo chefe de cozinha, presente em todos voos longos da Turkish para atender aos passageiros.

Chegando nos assentos, já se nota claramente a diferença para outros A350 da Turkish: são várias cabines quadradas e não poltronas com acabamento. Além disso, no meio da aeronave não tem bagageiros, e sim apenas nas laterais, dando uma amplitude muito maior.

Esta foi a configuração escolhida pela Aeroflot, com 28 assentos-cabine na Executiva e 288 poltronas na Econômica, em contraste com os 32 assentos-cama e 297 poltronas que a Turkish tem por padrão no mesmo A350-900.

Na escolha das poltronas, ainda no Brasil, era possível notar a configuração diferente, já que em uma aeronave a executiva ia até a fileira 8 e na da Aeroflot até a 7. Em comum, está o acesso direto ao corredor e o compartilhamento de cabines para quem fica no meio, caso queira.

Apesar de ser uma cabine da Aeroflot, todos os logos da Turkish. O conforto, obviamente, é maior, já que a poltrona é mais larga, porém conta com menos “armários” para guardar seus perteces – nos A350 originais da Turkish têm até cofre com senha.

Um detalhe interessante é que as persianas no A350 da Aeroflot são diferentes da maioria dos A350, que descem com a ação manual do passageiro. Nesta aeronave, o acionamento é elétrico, primeiro com uma persiana mais clara e depois com uma mais escura. Esse sistema é um meio termo do sistema a gás do 787 e o tradicional.

O sistema de entretenimento é o tradicional da Turkish, com uma grande tela, sendo apenas o Wi-Fi um pouco mais lento, além do que a Aeroflot não selecionou a 3ª câmera externa que fica na barriga da aeronave apontada para baixo. As câmeras externas do trem de pouso e de cauda são de série do A350 XWB e sempre acessíveis aos passageiros.

Logo após nos acomodarmos, foram servidas bebidas de boas-vindas, mas sem opções alcoólicas, e o cardápio temático da Champions League foi entregue pelo chef.

Pelo fato do voo decolar às 13h45, ainda seria servido um almoço, e mais próximo do pouso uma outra refeição menor. De entrada as opções eram uma salada variada ou uma sopa de ervilha.

As opções de prato principal eram três: robalo selvagem grelhado acompanhado de vegetais e mousseline de aipo; mezzelune com alcachofras e molho de parmesão; ou costeletas de cordeiro com kebab e Arroz com Tomate.

Optamos pelo peixe e pelo cordeiro e o chefe anotou o nosso pedido. Logo após, a aeronave começou a sair do portão e fez um táxi de apenas 5 minutos até a pista 36.

A decolagem e subida da aeronave foram rápidas. O A350 fez uma curva à direita logo após começar a sobrevoar o Mar Negro e voou rumo à Grécia passando pelo Mar de Mármara e Mar Egeu, até chegar no Mediterrâneo.

Passada a altitude de 36 mil pés (cerca de 10 km), foi iniciado o serviço de bordo, sendo colocado inicialmente os acompanhamentos como azeite, manteiga, pão e nozes e, logo depois, servido o prato principal.

O robalo estava grelhado ao ponto, com uma bela crosta, servido separado dos legumes e do mousseline. Já o cordeiro tinha uma apresentação diferente, sendo colocada a costeleta em cima do kebab, que estava, por sua vez, apoiado no molho e ao lado do arroz.

Todos os pratos têm temperos nítidos, como uma marca da culinária turca, que neste ponto é muito próxima da brasileira. A carta de vinhos era completa com opções locais, da França, Chile, Argentina e Portugal.

Os drinks não eram listados mas era possível solicitar qualquer um dos tradicionais, incluindo Gin Tônica, Aperol e Cuba Libre. De sobremesa as opções eram Tiramisu, doces turcos, sorvete, queijos e frutas.

Finalizado as refeições, era a hora de aproveitar o espaço da cabine da Aeroflot. O espaço para as pernas é nitidamente mais largo que o assento da executiva regular da Turkish.

A tela grande se destacava mas por ser mais distante do assento que no A350 padrão, era mais agradável. O acabamento da cabine em branco, azul e dourado, da Aeroflot, foi mantido pela Turkish. Ele é bem simplório e dá a impressão de que está faltando algo esteticamente. A seleção de filmes é bastante atual.

Com o sono chegando, vem a cereja do bolo desta executiva: é só puxar a porta para ficar uma cabine privativa, reduzindo ainda mais o ruído vindo do corredor, permitindo um bom sono de 5 horas. E, para não perder a hora boa, existe um pequeno botão estampado com “zzZzz” para deixar os comissários cientes se você quer ser acordado na hora das refeições ou não.

Chegando no Brasil, enquanto sobrevoamos a Bahia, foi iniciado o serviço de bordo novamente, dessa vez se iniciando com pães e uma torta de laranja, muito saborosa.

As opções eram um pouco mais limitadas, sendo elas o camarão com molho curry e arroz ou salada de quinoa com pimenta vermelha assada e queijo branco. Por questão de alergia, a nossa opção foi a salada. A apresentação dos pratos estava boa e a pimenta com um gosto excepcional. O serviço foi finalizado com o avião já em descida sobre Minas Gerais.

Por fim, o pouso ocorreu na pista 10R do Aeroporto Internacional de Guarulhos, sendo necessário esperar 10 minutos na pista de táxi para que um Boeing 787-9 da Air Canada liberasse a posição que iríamos chegar.

Por ser um voo que chega em torno das 21h00, a alfândega estava vazia e o desembarque foi bastante rápido. Vale lembrar ainda que o avião segue para Buenos Aires e os passageiros com destino à Argentina desembarcam para limpeza da aeronave, o que não acontece no sentido inverso.

Carlos Martins
Carlos Martins
Fascinado por aviões desde 1999, se formou em Aeronáutica estudando na Cal State Long Beach e Western Michigan University. #GoBroncos #GoBeach #2A

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