Voos de alto risco, vendidos a US$ 4.000 para entrada ilegal nos EUA, estão proibidos no Haiti

Foto: USAF

O governo haitiano tomou uma medida para proibir os voos charter de alto risco após passagens serem vendidas por até US$ 4.000 para entrada ilegal nos EUA. A prática vinha sendo contestada por meses.

No início deste ano, chamou atenção a incoerência entre o preço mais elevado das passagens aéreas do Haiti para os EUA, chegando a ser 24 vezes maior em relação ao trecho oposto (dos EUA para o Haiti). Essa discrepância se dava pelo fato de que ninguém queria ir para o Haiti.

As companhias aéreas, inclusive, voavam com aviões praticamente vazios em direção ao país caribenho, apenas para retornarem com a aeronave cheia. Os passageiros no Haiti enfrentavam uma disputa ferrenha por assentos limitados para poderem partir, em meio à crescente situação de violência no país, com gangues envolvidas em crimes como assassinatos, incêndios criminosos e sequestros.

Tática descoberta

Com isso em mente, foi descoberto por agentes de viagens que os voos charter para a Nicarágua se tornaram uma alternativa viável. Com 15 viagens por dia, o país centro-americano abria suas portas para haitianos sem visto. A partir da Nicarágua, os haitianos poderiam seguir viagem, de forma irregular, para países como Honduras, México e, finalmente, os EUA.

Esses voos charter também passaram a operar para outros destinos, como República Dominicana e Turks e Caicos, alcançando preços exorbitantes de até US$ 4.000 por assento. Porém, agora, o Haiti decidiu encerrar essas viagens de alto risco, como reportou a agência Reuters.

Na semana passada o governo haitiano anunciou a suspensão de todos os voos para a Nicarágua, diante da preocupação crescente com a gigantesca onda de migração que tem levado dezenas de milhares de haitianos a utilizarem o país como um trampolim para os Estados Unidos.

No aeroporto internacional Toussaint Louverture, no Haiti, havia mais de 1.000 passageiros aguardando em um estacionamento lotado em frente ao terminal de embarque, à espera de chamadas para embarcar nos voos.

Violência

Os problemas enfrentados pelo Haiti são frequentemente atribuídos ao seu passado colonial e às reparações exigidas pela França após a independência do país, mas essas questões já foram eliminadas em 1947.

O que impressiona, no entanto, é a grande diferença econômica entre o Haiti e a República Dominicana desde a década de 1960. Ambos iniciaram o período com padrão de vida semelhante, porém, enquanto os dominicanos cresceram oito vezes, o Haiti permaneceu estagnado por 70 anos.

Isso sugere que os problemas enfrentados pelo Haiti são internos, incluindo a corrupção desenfreada. Inclusive, a Disney chegou a fabricar produtos no país, mas foi forçada a encerrar as operações devido à violência e ao crescente comércio de drogas.

Carlos Ferreira
Carlos Ferreira
Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.

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