Após incidentes, ALTA se posiciona contra o uso do Aeroporto de Congonhas pela aviação não regular

Aeroporto de Congonhas, em São Paulo

Diante dos recentes incidentes com aeronaves da aviação não regular no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, que causaram grandes impactos, diretos e indiretos, para centenas de voos e para dezenas de milhares de passageiros, a Associação Latino-Americana e do Caribe de Transporte Aéreo (ALTA) emitiu um comunicado com seu posicionamento sobre a situação.

A associação afirma que é hora de repensar as operações no aeroporto paulista, para garantir a melhor utilização de sua infraestrutura, pois há outras opções de aeroportos nos arredores da cidade para as operações da aviação não regular.

O comunicado da ALTA está reproduzido a seguir integralmente:

“Em razão dos recentes incidentes que ocorreram em um curto intervalo de tempo no Aeroporto de Congonhas, especificamente em 1º de novembro e hoje, 3 de novembro, a Associação Latino-Americana e do Caribe de Transporte Aéreo (ALTA – www.alta.aero) enfatiza a importância de assegurar a eficiência operacional dessa infraestrutura aeroportuária.

Acreditamos que já é hora de encarar a realidade de maneira técnica e em benefício da grande massa da população, que está sendo impactada direta ou indiretamente pelas interrupções do tráfego no aeroporto em razão de problemas gerados por aeronaves que deveriam – e poderiam – usar outras infraestruturas, privadas ou concedidas, que cercam a cidade.

Somente com profissionalismo será possível obter um grande benefício para todos que utilizam o sistema de aviação, mantendo a constância e previsibilidade desse importante hub aéreo e garantindo a contínua fluidez do sistema de aviação civil no Brasil.

Já não dá mais para ser responsabilizado por problemas causados por terceiros que não estão sujeitos às mesmas regras e responsabilidades. Os fatos e as pessoas impactadas estão aí como evidência: poucos estão afetando um serviço essencial para a muitos.

A Organização Internacional de Aviação Civil (OACI/ICAO) estabelece diretrizes para a maximização do aproveitamento das infraestruturas aeroportuárias, visando sempre manter um equilíbrio entre eficiência e segurança. Para atingir esse objetivo, são necessários investimentos contínuos e medidas estratégicas, como a otimização das pistas, ampliação de terminais de passageiros, melhorias nas operações aeroportuárias e a implementação de sistemas de gerenciamento de tráfego aéreo (ATM) avançados.

Acreditamos que, com a concessão realizada, melhorias significativas acontecerão. Mas está na hora de compreender que milhões de passageiros não podem ser prejudicados por apenas alguns. Todos esses esforços e recursos financeiros podem ser em vão quando incidentes envolvendo aeronaves de pequeno porte, não regulares, prejudicam o funcionamento do aeroporto de Congonhas, um local de relevante logística nacional.

E o pior, não é correto que as companhias aéreas regulares sejam responsabilizadas por atrasos, cancelamentos, dentre outros, causados por terceiros. Quem paga esta conta? Já está na hora de encarar a realidade.

O Aeroporto de Congonhas, localizado no centro da cidade de São Paulo, é um dos mais movimentados e estratégicos terminais do Brasil. Por muitos anos, tem sido um centro vital de transporte aéreo, conectando pessoas e mercadorias em todo o país. No entanto, nas últimas temporadas, um problema tem abalado sua eficiência: os incidentes envolvendo aeronaves não regulares de pequeno porte.

Em 2023, em menos de 72 horas o Aeroporto de Congonhas testemunhou dois incidentes notáveis: o que ocorreu na véspera do feriado de finados, resultou na interdição da pista por um período de duas horas. Nesse episódio, uma aeronave de pequeno porte enfrentou complicações com o seu trem de pouso durante a aterrissagem, ocasionando sérios transtornos nas operações das companhias aéreas nacionais e, em especial, nos planos dos passageiros.

Quando uma pista é fechada, os voos programados para aquele aeroporto são desviados para outros destinos, acarretando prejuízos consideráveis que afetam todo o país. Isso implica em centenas de voos cancelados e alterados, prejudicando milhares de passageiros. E é importante mencionar que não são impactados apenas os usuários daquele aeroporto. Aviação é uma atividade sistêmica e – quando algo assim ocorre – vários aeroportos, voos e pessoas são afetados.

O incidente de hoje, originado por uma avaria nos freios de um jato executivo durante a aterrissagem, também acarretará repercussões significativas e em cascata tanto para os viajantes quanto para as empresas. E quem arca com isso?

Não é factível permitir que um aeroporto que acabou de ser concedido à iniciativa privada, justamente visando que receba os investimentos necessários para sua modernização e para melhor atender aos passageiros, a cidade de São Paulo e todo o sistema de aviação civil no Brasil, tenha que ser interditado por tais incidentes, gerando tanto transtorno e custos.

E olha que isso nada tem a ver com a segurança do aeroporto, pois sabemos que este segue seguro em suas operações. Isso tem a ver com a razão de ser deste aeroporto: operações de menor porte da aviação não regular poderiam perfeitamente ser dirigidas a outros aeroportos da região.

Pior ainda é imaginar que, em princípio, estas aeronaves não estão sujeitas aos normativos da resolução 400 da ANAC, mas causam danos a milhares. Já não é mais aceitável que centenas de milhares de pessoas sejam impactadas por um grupo pequeno que insiste em usar esta infraestrutura quando, ao redor da cidade, existem outros aeroportos dedicados à aviação executiva, ou mesmo outros concedidos, sem a movimentação que tem Congonhas.

Para evitar que esses incidentes continuem prejudicando a sociedade, a ALTA entende que é primordial que esta pauta seja tratada urgentemente, de maneira adequada e profissional, sem paixões e devaneios equivocados, através de uma agenda regulatória (a revisão ordinária já está por ser feita) pelo órgão regulador do Brasil, a ANAC.

Apenas assim, será possível fazer uma análise de impacto regulatório (AIR) e demonstrar que, diante do crescimento da aviação no país, apenas a aviação regular deve fazer uso da infraestrutura do aeroporto de Congonhas. Aliás, neste meio tempo, o novo operador do aeroporto pode tomar medidas adequadas que maximizem o uso da aviação regular em benefício de toda a população, evitando assim, mais desgaste para todos.”

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Murilo Basseto
Murilo Bassetohttp://aeroin.net
Formado em Engenharia Mecânica e com Pós-Graduação em Engenharia de Manutenção Aeronáutica, possui mais de 6 anos de experiência na área controle técnico de manutenção aeronáutica.

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