CEO da Latam posta contra jatinhos em Congonhas e inicia bate-boca com a aviação executiva

Depois que o jato executivo Learjet 75 saiu da pista em Congonhas no domingo, 9 de outubro, parando o aeroporto por quase 10 horas, apareceram inúmeras teorias que supostamente resolveriam os problemas do saturado e crítico aeroporto paulistano.

Como exemplo disso, numa publicação em seu perfil na rede LinkedIN, o CEO da Latam, Jerome Cadier, se posicionou contra a presença das aeronaves executivas no local como forma de resolver a situação. Em resposta, ele conseguiu bastante apoio dos seus colegas de Latam, mas, ao mesmo tempo, levantou uma forte discussão com o pessoal da aviação executiva, que contrapôs seus argumentos.

O resultado saiu do lado da discussão profissional e virou uma queda de braço, com todos os lados apresentando seus argumentos, todos válidos, confirmando um velho ditado que diz que “para cada problema complexo, existe uma solução simples e errada”. O AEROIN fez uma coletânea de algumas das respostas, assim como transcreve a posição de Cadier.

O que disse Cadier

“Mais um absurdo… Ontem um avião de pequeno porte teve seus pneus estourados e parou na alça de acesso à pista do aeroporto de Congonhas. Isto aconteceu as 13:35. O aeroporto ficou impraticável até as 22:18. Ou seja, novamente, nenhum voo decolou ou pousou por 8 horas por causa de um avião pequeno com problemas”.

O domingo de tarde é muito movimentado em Congonhas com a “volta” do final de semana e a preparação dos voos de segunda de manhã, pico de operação do aeroporto. Resumo aqui o impacto somente na LATAM Airlines, para que vocês tenham uma ideia de como funciona a aviação”.

“Só em função deste incidente e seus efeitos reacionários, entre ontem e hoje, tivemos mais de 180 voos cancelados, atrapalhando a vida de quase 30 mil pessoas. Tivemos inclusive impacto na saída dos voos internacionais de Guarulhos (GRU MAD por exemplo foi cancelado porque a tripulação não chegou a tempo)”.

Todos estes passageiros tiveram que ser realocados em outros voos, em outros dias. Muitos tiveram que ir para o Hotel e aqui convido vocês a pensarem se, de uma hora para outra, existe em São Paulo disponibilidade para milhares de quartos de hotéis sem reserva antecipada. Não existe nem transporte para tanta gente de uma vez. Filas enormes, gente dormindo no chão, pessoas chorando e alguns brigando…um desespero”!

Abrimos para remarcação sem custo para os impactados. Tentamos avisar a todos antes que se deslocassem para o aeroporto. Levamos equipe de outros aeroportos para atender aos passageiros. Levamos água já que não existia capacidade para alimentar a todos no aeroporto. Imaginem o prejuízo financeiro por este incidente, que não é da responsabilidade da LATAM”.

Aqui deixo minha pergunta final para vocês: o que mais deve acontecer em Congonhas para que decidam não operar com aviação de pequeno porte em um aeroporto tão central para toda a malha aérea do país”?

O que ele ouviu de volta

Abaixo, estão apenas algumas das muitas respostas publicadas. O AEROIN selecionou algumas respostas mais ponderadas, já que a ira se mostrou presente na seção de comentários da publicação.

Cassio Polli, CEO da AERIE: “Visão míope… um incidente como esse poderia ter ocorrido com qualquer porte de aeronave e se fosse um avião maior, o estrago poderia ser proporcionalmente maior. Qual impacto dos acidentes da TAM para Congonhas, quando ocorreram? A Aviação Executiva desempenha papel importante no desenvolvimento do país e em todos os grandes centros / aeroportos do mundo, tem convivência harmônica… Todos sentimos pelo ocorrido e lamentamos pelos inconvenientes aos passageiros, mas casos fortuitos na aviação geral, passam por situações que demandam contingências”.

Rodolfo Garcia da Costa, Diretor da Prime You: “Comentário bastante infeliz esse Jerome Cadier. Com certeza o que precisa não é retirar a aviação executiva de CGH e sim ter condições de responder mais rápido a esse tipo de evento. Até agora não foi demonstrado nenhum tipo de irregularidade relacionada a aeronave envolvida no incidente. Sem contar que a empresa que você preside hoje tem origem na aviação executiva”.

Lea Villaça, Comandante de avião e CEO de uma empresa de treinamento para aviação: “Inoportuno seu comentário, Jerome Cadier, uma vez que sua empresa foi responsável pelos maiores acidentes neste aeroporto. O avião, que ao meu ver era pequeno e não de pequeno porte como mencionado, sofreu uma emergência e por motivos óbvios não foi intencional. Jogue sua ira para as autoridades regulatórias que demoraram 9 horas para normalizar o aeródromo. Jogue sua ira no sistema que custou milhões e ainda não está autorizado a operar. E olhe pra dentro da sua empresa que tem problemas enormes em gestão de pessoas e crises. Por exemplo um voo de Madrid, saindo de outro aeroporto ter sido cancelado porque a tripulação não chegou? Aonde estava tripulação estava”?

Tiago Garavello, Piloto-Chefe na Italac: “Primeiro vale lembrar que devemos ter empatia. Todos os 30.000 que tiveram suas vidas influenciadas não correram nenhum risco de acidente e, o Sr. esta falando sobre colegas de aviação que dão seu sangue no dia a dia com muito treinamento para manter todos em segurança em situações de emergência.
Segundo, a TAM é até hoje a protagonista do pior acidente com o maior número de mortes e impacto na vida de pessoas em Congonhas. A Tam (Taxi Aéreo Marilia) operou por muitos anos aviões de pequeno porte em Congonhas, onde pôde crescer e se tornar uma grande empresa e poder contratar CEO idiota com comentários infelizes mostrando que “nada substitui o lucro”. Se houve algum atraso, busque no administrador do aeródromo recursos para amenizar situações de emergência e, busque também junto aos órgãos da aviação agilidade no processo de perícia e etc. E se quiser ser racional de fato, siga os exemplos das grandes metrópoles mundiais onde a aviação comercial opera em aeroportos afastados dos grandes centros urbanos”!

Marcus Boldrin, comandante de avião: Existem muitos mais eventos de voos comerciais em CGH do que voos executivos (dois da TAM , Pantanal que rodou na pista e BRA que quase varou) o problema está na eficácia e não na categoria das aeronaves. Por que não aumentam a pista auxiliar? Desta forma seria possível direcional a aviação executiva na pista auxiliar e qualquer evento não iria interferir com a principal. Por que as empresas como Tam e Gol não exploram mais VCP? Se deu certo pra Azul pode dar certo pras outras também. É fácil colocar a culpa na aviação executiva somente e não focar em outros detalhes e soluções. A executiva é tão importante quanto a comercial”.

De fato, não é um assunto para se resolver com a cabeça quente.

Algumas evidências registradas

Carlos Ferreira
Carlos Ferreira
Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.

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