São Paulo não precisa da construção de um 4º aeroporto, pois ele já está pronto – SJK Airport

Fachada do SJK Airport, no lado público de entrada e saída do terminal

Nos últimas semanas, voltou a estar em discussão no Brasil a necessidade de mais um aeroporto na Terminal São Paulo, a mais movimentada terminal aérea do país, que deve fechar 2023 com cerca de 80 milhões de passageiros transportados através de seus três principais aeroporto, São Paulo/Congonhas, Guarulhos e Campinas/Viracopos.

Embora estes equipamentos ainda estejam dentro de seus limites operacionais instalados, eles já apresentam gargalos, e o forte crescimento do mercado aéreo nacional na recuperação pós-pandemia indica que o limite da infraestrutura da terminal paulista logo poderá ser atingido.

Assim, a discussão sobre mais um aeroporto é realmente necessária. Porém, segundo ressalta a SJK Airport, concessionária que administra, há um ano, o Aeroporto Internacional Professor Urbano Ernesto Stumpf, de São José dos Campos (SP), o enorme investimento para fazer tudo do zero, no antigo projeto chamado de Novo Aeroporto de São Paulo (NASP), não se justifica neste momento.

Isso porque o terminal por ela administrado já está operacional, com estrutura adequada para receber a aviação comercial de grande porte e apoiar, com investimentos muito menores, o crescimento do movimento da Terminal São Paulo.

A administradora lista diversos aspectos que mostram o potencial que será desperdiçado ao optar por um novo equipamento e deixar de lado o aeroporto localizado no Vale do Paraíba, a apenas 90 km do centro da cidade de São Paulo, ou até muito menos, a depender da região de onde se parte na capital paulista.

Conheça, no vídeo a seguir e em detalhes na matéria abaixo, os principais pontos destacados pela SJK Airport, que o AEROIN foi conhecer e conferir pessoalmente na última semana.

Infraestrutura para grandes aviões

O SJK Airport já é um aeroporto de grande porte dentro da Terminal São Paulo. Tem uma pista de 3 mil metros de comprimento por 45 metros de largura, e taxiways e pátio que comportam o peso de aeronaves como os Boeing 767, 787, 777 e 747 ou os Airbus A330 e A350.

Aeroporto de São José dos Campos
Boeing 767-300 cargueiro no pátio do SJK Airport
Boeing 747-400F pousando em São José dos Campos

Além disso, conta com PAPI (luzes de indicação de trajetória de aproximação de precisão) e aproximações por instrumento de precisão (ILS) CAT I na cabeceira 16, tem uma torre de controle moderna e completa, operada pelos militares do DECEA, e implantará em breve o PAPI também na cabeceira 34.

Parte do sistema de pouso por instrumento (ILS) na cabeceira 16 do SJK Airport
Dados técnicos da pista do SJK Airport
Informações sobre instrumentos e procedimentos de tráfego aéreo no SJK Airport

Melhorias promovidas pela concessionária incluem R$ 5 milhões já investidos na renovação do pavimento das taxiways e da sinalização vertical e horizontal, a implantação, em breve, de área de segurança de fim de pista (RESA) em ambas as cabeceira e a adequação do terreno em alguns pontos da faixa de pista.

Atualmente classificado como categoria C, que permite operações de aeronaves como o Boeing 737, o Airbus A320 e o Embraer 195-E2, o aeroporto do Vale do Paraíba já está com processo em andamento, junto à Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), para se tornar categoria D. Isso permitirá o recebimento de operações regulares dos grandes modelos de aviões citados acima.

Por sinal, mesmo ainda na categoria C, o terminal de São José dos Campos já recebe, sob a aprovação da ANAC e os devidos cuidados necessários, operações regulares com Boeing 767-300F da LATAM. O voo, que ocorre duas vezes por semana (como mostrado no vídeo a seguir), parte de Miami, nos Estados Unidos, transportando cargas variadas, principalmente para a indústria do Vale do Paraíba.

Boeing 767-300 cargueiro no pátio do SJK Airport

Além da operação regular da LATAM Cargo, outros voos com grandes cargueiros também são realizados sob demanda, como os mais recentes, vistos nas duas últimas semanas, em que dois Antonov AN-12 da Ukraine Air Alliance e dois Boeings 767-300F da Air Canada Cargo trouxeram cargas desde Montreal, no Canadá, para a Embraer.

Destacam-se também operações pontuais com Boeing 747-400F que ocorream em 2019 e em 2022 no SJK Airport.

Agilidade contra o gargalo da carga aérea

No caso da operação de carga aérea, que já está ocorrendo regularmente no local, a SJK Airport destaca que o desembaraço aduaneiro está sendo feito em pouquíssimas horas.

Com uma área alfandegada recentemente ampliada de 6 mil para 12 mil metros quadrados, a maior parte das cargas é atualmente desembaraçada em duas a três horas, ou seja, nesse curto tempo, a carga sai do avião e já está no caminhão, partindo para entrega ao cliente.

A concessionária lembra que, muitas vezes, esse processo demora dias no Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas, e no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, porque são terminais muito grandes, com grande volume a ser movientado e longos tempos de armazenagem.

Enquanto isso, em São José dos Campos, o sucesso da operação, sendo realizada duas vezes por semana, se deve ao aeroporto ser rodeado por um grande polo industrial, que demanda essa eficiência e está sendo atendido.

E esse aspecto da eficiência se tornou mais latente nas últimas semanas, quando, destaca a SJK, ocorreram alguns episódios severos de quase colapso no aeroporto de Guarulhos. Houve muita carga parada, inclusive com empresas sinalizando que não receberiam mais cargas para exportação.

A concessionária explica que esse problema já começa a afetar também Viracopos, ainda que em menor escala, enquanto o aeroporto de São José dos Campos segue operando na sua plena capacidade, inclusive tendo recebido as operações especiais nas últimas semanas.

Isso demonstra a importância da descentralização, de ter opções, e São José dos Campos já está plenamente operacional para apoiar essa diversificação necessária.

Conexão rodoviária

Assim como o Aeroporto de Viracopos, em Campinas, é apontado como estratégico para a Terminal São Paulo por estar em um bom entroncamento de rodovias importantes (Anhanguera, Bandeirantes, Santos Dumont e Dom Pedro), situação semelhante ocorre com o aeroporto em São José dos Campos.

O equipamento aeroportuário é muito bem conectado à capital com duas grandes rodovias, a Dutra de um lado, que está sendo expandida, e a Carvalho Pinto do outro lado. Além delas, existe a Tamoios, passando em frente ao aeroporto e seguindo rumo ao Litoral Norte do estado, e a rodovia Dom Pedro não muito distante, que segue até Campinas.

Uma região diferente a ser atendida no transporte de passageiros

A recente discussão que foi novamente levantada, agora pelo atual ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, sobre a necessidade de São Paulo ter um quarto aeroporto em São Paulo, é um assunto já bastante antigo, há cerca de 10 anos. Um projeto que foi cogitado e abandonado várias vezes, por mais de uma empresa.

O NASP é planejado entre Caieiras e Cajamar, exatamente no meio do caminho entre a capital paulisa e o aeroporto de Viracopos, no mesmo eixo norte que vai para o terminal campineiro. Logo, estará em uma região que já é atendida com bastante qualidade por transporte aéreo, o que poderá gerar transtornos por impactar o mercado da concessão de Viracopos.

Portanto, destaca a SJK Airport, é mais vantajoso aproveitar um setor diferente, com grande demanda não atendida. Assim, o eixo leste da capital, onde está São José dos Campos, é naturalmente, para a administradora, a região mais adequada para a expansão da Terminal São Paulo.

O SJK Airport dentro do perímetro de 100 km, assim como Viracopos (VCP), mas em um setor diferente

A zona leste de São Paulo tem perfil de uma classe média que demanda transporte aéreo, especialmente se forem viabilizadas operações de baixo custo, com passagens aéreas mais baratas. Além disso, o aeroporto atende também o Vale do Paraíba, onde estão cerca de 2 milhões e meio de pessoas, com renda média per capita alta em uma região muito industrializada, uma das mais desenvolvidas do Brasil, de forma semelhante como são Campinas e sua região para Viracopos.

Adicionalmente, tem o potencial de ser o aeroporto para o turismo da Serra da Mantiqueira e da Rota Religiosa, atendendo a destinos como Campos do Jordão e Aparecida, ambos a cerca de 80 km de distância do terminal aeroportuário, bem como também do litoral norte de São Paulo, com cidades como Ubatuba, Ilhabela, Caragatatuba e outras.

Acesso de novas empresas para passagens aéreas mais baratas

Se a Terminal São Paulo já tem esse movimento aéreo em plena expansão, tem tudo para crescer ainda mais se houver preços de passagens mais baixos. E isso significa a necessidade de entrada de novas empresas aéreas, especialmente as de tarifas baixas, para ampliar a competição, já que o mercado está concentrado nas mãos de somente três grandes companhias.

Porém, explica a SJK Airport, as companhias aéreas que quiserem entrar no Brasil precisam, necessariamente, ter acesso à Terminal São Paulo, o grande centro de aviação do país, e os três aeroportos em uso apresentam dificuldades para isso.

Congonhas é um aeroporto completamente saturado, já com seus 44 movimentos por hora. É muito difícil uma entrante acessá-lo, a não ser que o faça a longo prazo, aos poucos. Guarulhos também já tem sinais claros de saturação, principalmente nas horas de pico. É difícil hoje operar em Guarulhos nas horas preferidas do dia, na parte da manhã e no final da tarde, que são as mais valiosas para o transporte aéreo. E Viracopos é o hub da Azul, muito consolidado, bem como das empresas cargueiras de longo curso.

Então, há dificuldade de acesso ao mercado por novas companhias aéreas, principalmente nos melhores horários comerciais do dia, e São José dos Campos se posiciona como uma alternativa de acesso a novas empresas, que estejam buscando o mercado brasileiro e precisam se posicionar na terminal aérea de São Paulo em horários atrativos para os passageiros.

Aeroporto para operações low-cost

Conforme o vídeo mostrado no início desta matéria, produzido pela SJK Airport, São José dos Campos é um aeroporto que tem um processo de embarque e desembarque de passageiros muito rápido, muito fluido. É um terminal de 6 mil metros quadrados, onde se embarca e desembarca de maneira muito tranquila, em poucos minutos.

Tem capacidade para até 3 milhões de passageiros ao ano e, ao mesmo tempo, não é complexo. Tem um só nível, completamente plano, evitando a necessidade de subir e descer por elevadores, escadas ou escadas rolante. Além disso, somente cerca de 100 metros separam a posição onde o avião estaciona e o meio fio onde o passageiro vai pegar o seu transporte público ou seu carro.

Assim, São José dos Campos disponibiliza um processo de embarque e desembarque muito rápido, típico das operações de empresas aéreas low-cost (baixo custo), que operam com fluidez e turnaround (tempo de solo entre pouso e decolagem) mais curto.

Área pública do terminal de passageiros
Check-in, com 15 posições
Sala de embarque

Segundo a concessionária, o aeroporto tem hoje o que é considerado o menor tempo de aeronave em solo do Brasil, conseguindo fazer algo como 20 a 30 minutos no máximo o tempo em que a se leva para fazer um turnaround de um voo comercial.

Com isso, a SJK Airport lembra que o aeroporto de São José dos Campos tem o potencial de atuar como os aeroportos conhecidos mundo afora como “reliever airport”, ou aeroportos de alívio. Isso é muito comum na Europa e nos Estados Unidos, onde principalmente as empresas low cost operam nestes aeroportos.

Alguns exemplos são a terminal aérea de Frankfurt, com o Aeroporto de Hahn, a terminal aérea de Munique com o Aeroporto de Memmingen, a terminal aérea de Barcelona com o aeroporto de Reus, Paris com Vatry, Londres com Stansted e outros e Washington com Baltimore. Todos eles estão a distâncias semelhantes ou até mais distantes das cidades centrais a que atendem em comparação com a distância de 90 km entre São José dos Campos e a cidade de São Paulo:

Fonte: SJK Airport

Combustível mais barato

O principal custo do setor de transporte aéreo é o querosene de aviação. No transporte de passageiros no Brasil, o querosene de aviação representa cerca de 45% do custo de um voo. No transporte de carga, ele pode representar até mais, chegando a representar 60% ou mais do custo de um voo.

Então, não há como se falar em aeroporto low cost sem um combustível competitivo. Sob esse aspecto, São José dos Campos tem uma vantagem competitiva relevante, pois está a cerca de 2 e 3 quilômetros da Revap, a refinaria do Vale do Paraíba, da Petrobras.

Nos destaques, a Revap e o SJK Airport – Imagem: Google Maps

Essa refinaria produz cerca de 50% do total de combustível de aviação produzido no Brasil, que hoje é bombeado para o Aeroporto de Guarulhos por meio de dutos, que passam exatamente abaixo do aeroporto de São José.

Dessa forma, a SJK Airport ressalta que, se pelos demais motivos citados São José já é um modelo de aeroporto low cost do Brasil, a possibilidade de contar com um combustível bastante competitivo em termos de preço, mais barato do que Guarulhos e Viracopos, por estar ao lado dessa refinaria, é ainda mais relevante para viabilizar operações de baixo custo.

E se o transporte dutoviário apenas se tornará possível para grandes volumes de combustível, que virão após a ampliação dos voos, a concessionária explica que, atualmente, está colocando todos os esforços em uma negociação com o Estado de São Paulo para a entrada do aeroporto no programa de ICMS reduzido.

São José dos Campos não foi uma cidade elegível à redução do imposto quando o programa foi implantado em 2019, pois, naquele momento, contava com voo da Azul Linhas Aéreas, e somente cidades sem voos comerciais poderiam fazer parte. Agora, as operações aéreas no aeroporto do Vale do Paraíba deverão, muito em breve, contar com esse incentivo para barateamento dos custos de combustível.

Atualização: nesta segunda-feira, 4 de dezembro, o Governo do Estado de São Paulo publicou os novos critérios para a aplicação da alíquota reduzida ao querosene de aviação para transporte de passageiros e cargas no estado.

Ampliação futura da estrutura

Atualmente, o SJK Airport tem área de pátio que pode atender, simultaneamente, a dois aviões de categoria D ou a cinco aviões de categoria C. Isso representa uma capacidade relevante para apoiar a Terminal São Paulo pelos próximos 5 a 10 anos, destacando-se a capacidade instalada de 3 milhões de passageiros ao ano, sem utilização, e 50 mil toneladas de carga ao ano, com cerca de 10% atualmente em uso.

Para o período dos 30 anos da concessão, no entanto, não há possibilidade de ampliação do atual pátio, já que existe a fabricante Embraer de um lado e o Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA) de outro.

Hangares do DCTA (à esquerda) e da EMBRAER (à direita) ao redor do pátio do SJK Airport

Assim, a concessionária já se planeja para, conforme houver demanda para tal, expandir a médio e longo prazo a área de operações comerciais no lado oposto da pista de pousos e decolagens, possibilitando até 15 a 20 milhões de passageiros ao ano.

Trata-se de uma demanda antiga da aviação civil brasileira, em que conversas preliminares formais já existem entre a SJK Airport, a Prefeitura de São José dos Campos, a Secretaria Nacional de Aviação Civil e o Comando da Aeronáutica.

Perspectivas de voos para os próximos meses

A administradora do SJK Airport ressalta ainda que, paralela e independentemente das discussões sobre o 4º aeroporto da Terminal São Paulo, está ativamente trabalhando para atender aos anseios da população do Vale do Paraíba por voos comerciais.

A empresa está mantendo contato muito próximo com as empresas aéreas nacionais, bem como também conversa com as low costs estrangeiras, como JetSMART, Sky Airline, Wingo, Flybondi, Viva Aerobus, Volaris, etc, para buscar fazer com que a próxima temporada IATA, que se inicia em abril de 2024, se torne o grande momento da retomada dos voos de passageiros no Aeroporto Internacional Professor Urbano Ernesto Stumpf.

Receba as notícias em seu celular, clique para acessar o canal AEROIN no Telegram. Conheça também nosso perfil no Instagram e nosso canal no WhatsApp.

Murilo Basseto
Murilo Bassetohttp://aeroin.net
Formado em Engenharia Mecânica e com Pós-Graduação em Engenharia de Manutenção Aeronáutica, possui mais de 6 anos de experiência na área controle técnico de manutenção aeronáutica.

Veja outras histórias